ABRIL
A minha mãe está sempre cheia de pressa
Tudo começou no dia em que a mãe de Ivan retomou o trabalho e
começou a olhar o seu relógio com paixão. Durante todo o dia não tirava os
olhos dele e dizia:
— Meu Deus, já são cinco horas? Já são seis horas, trinta e sete
minutos e vinte e quatro segundos? Já são oito horas e vinte e oito? Mas isso é
terrível!
E corria, cabelos ao vento, do emprego para a escola, da escola
para o emprego, do emprego para as aulas de violino de Ivan, das aulas de
violino de Ivan para as suas aulas de canto, das aulas de canto para o
dentista, do dentista para o talho, do talho para a mercearia…
A mãe de Ivan queria fazer tudo. Para ganhar tempo, tinha
comprado, numa loja especializada, um par de sapatilhas supersónicas, que
tinham um motor que se aciona através de um botãozinho vermelho. Estas
sapatilhas chegavam a atingir quinze quilómetros por segundo. Parece muito
divertido, não parece?
Só que não era nada divertido, porque a mãe de Ivan achava que o
filho era demasiado lento para o seu gosto. Quanto mais pressa tinha, mais o
achava indolente. Então, enervava-se e criticava-o. Ficava furiosa com aquilo
que via como lentidão, mas que era, na realidade, um comportamento
perfeitamente normal. Quando Ivan estava a desenhar, tinha de acabar o desenho
em três segundos (tenta tu desenhar um carneiro ou um avião em três segundos e
vê se é possível). Quando Ivan tocava violino, tinha de fazer os exercícios em
três milésimas de segundo, caso contrário a mãe punha-se a suspirar e olhava
para o relógio como se este fosse um comboio que ela tinha de apanhar.
— Despacha-te! — dizia.
Mas parecia dizer “Pacha-te! Pacha-te!”, como se fosse um comboio.
À força de tanto correr, a mãe de Ivan pôs-se a fazer disparates.
…
in, Histórias em Português,
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