PROVA ORTOGRÁFICA DE NOVEMBRO
Era uma castanha que
estava como as outras, pendurada de um castanheiro. Chegando o tempo, as
castanhas amadurecem e caem por si. Só que esta não caiu.
- Estou bem onde estou e não quero aventuras. – dizia. Uma a uma, as outras dos ramos iam caindo e rebolando pelo chão, protegidas pelo cobertor ouriçado que as cobria até ao nariz. Nariz é um modo de dizer…
Vinham os garotos, estalavam-lhe os ouriços e metiam-nos nos bolsos.
A tímida e teimosa castanha desta história a tudo assistia do seu mirante e não gostava.
- A mim não me levam eles! - dizia.
Era a única que sobrava em todo o castanheiro. As folhas a fugirem da árvore, sopradas pelo vento, e ela a afincar-se ao ramo, com unhas e dentes. Unhas e dentes é um modo de dizer…
Sozinha, desabrigada, não estava feliz. Nem infeliz. Sentia até uma ponta de orgulho por ter conseguido resistir tanto tempo. Um sabor de vitória que a ouriçou toda.
- Ai que vou cair... - gritou.
Mas, no último instante, conseguiu agarrar-se. Ainda não era daquela.
Entardecia. Um grupo de gente acendera uma fogueira, junto ao castanheiro. Os garotos, que tinham andado às castanhas, e os pais dos garotos e os amigos dos garotos riam e cantavam. Estavam a preparar o magusto da noite de São Martinho.
A castanha solitária, no alto do castanheiro nu, estranhou a vizinhança. E intrigou-se. Que estaria a passar-se?
Debruçou-se do ramo mais e mais. A madeira a arder estalava, mesmo por baixo da castanha, a última. O fumo entontecia-a. E se fosse ver de perto o que se passava? Foi. Caiu. E a história acaba aqui.
Paciência. É o destino das castanhas. Destino é um modo de dizer...
António Torrado
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