O GUARDA-CHUVA
– Está a chover. Não podem ir sem o guarda-chuva!
«Ora, se elas não podiam ir sem o guarda-chuva, e o guarda-chuva era eu..., logo, elas não podiam ir sem mim», pensei. E a verdade é que a senhora me tirou do bengaleiro e lá fomos todos quatro, a senhora, as duas crianças e eu, para a rua.
Se eu soubesse que era assim, não tinha querido ir. Eu pensava que ser guarda-chuva era só andar a passear ao sol. Mas qual?! Eu era mesmo feito para a chuva. Foi horrível, não fazem ideia! Já alguma vez apanharam uma carga de chuva? Se calhar não apanharam porque têm guarda-chuva. Mas apanhei-a eu toda nesse dia, e sem ter experiência nenhuma. Eram gotas de água muito frias, muito pesadas, que caíam não sei de onde, com toda a força, em cima da minha linda copa de cor de fogo com reflexos roxos. Nem se via a cor de fogo e os reflexos ainda menos. E o barulho que fazia a chuva? Vi jeitos de ensurdecer! Cada vez caía com mais força. Quase me rompia o pano.
Fiquei encharcado até às varetas. Mas, depois do primeiro susto, que alegria eu não tive!... Ver, ver com os meus olhos, ali debaixo de mim, com umas capinhas de borracha e as suas galochas tão pequeninas, as duas crianças, confortadas, abrigadinhas, caminharem para a escola, satisfeitas, apesar de toda aquela chuva.
A senhora dizia:
– Metam-se debaixo do guarda-chuva!
E em tal posição me pôs que as duas crianças não apanharam nem uma gota de chuva e chegaram à escola sãs e salvas. E não ficaram constipadas.
Ricardo Alberty, O Príncipe de Ouro, Verbo (texto adaptado)
Sem comentários:
Enviar um comentário